quarta-feira, 11 de maio de 2016

Oficina de skate no Parque Chico Mendes

Ação voluntária acontece todos os sábados e atrai cada vez mais jovens

Ulisses Miranda


Antes de iniciar a atividade, Giovane informa sobre planos e
convida os jovens para participar de eventos relacionados
ao MJMQ (Foto: Ulisses Miranda)
Em 2009, o número de skatistas no Brasil atingiu o número de 3,9 milhões de pessoas, segundo pesquisa do Datafolha. Na pesquisa mais recente realizado pelo instituto, em 2015, o número de praticantes atingiu 8,5 milhões. Do total de skatistas brasileiros, 12% estão localizados na região Sul e 74% pertencem às classes C, D e E. No bairro Mário Quintana, uma iniciativa voluntária está reunindo jovens que, até os 20 anos, representam 83% dos praticantes no país.



O líder do Movimento Jovem Mário Quintana (MJMQ), Giovane Luiz de Lima Junior, também conhecido como Byl, é o responsável pelas oficinas que está trazendo o skate para o convívio dos jovens do bairro. Nos sábados à tarde, a partir das 14h, Giovane reúne a gurizada para compartilhar ensinamentos sobre skate e a vida. No último sábado, dia 7 de maio, além das manobras, improvisadas na quadra de futsal do Parque Chico Mendes, o grupo organizou um pequeno almoço de confraternização.

As oficinas foram idealizadas por Giovane, representante do Movimento Jovem Mário Quintana, em parceria com Wanderley Duarte Rodrigues, o Big Ball, de São Paulo. O objetivo primário da atividade é a "inclusão social dos adolescentes, inclusão através do esporte", explica Giovane. Uma vez garantido o primeiro passo, a ideia do oficineiro é "aproximar eles (os praticantes) da visão do projeto Movimento Jovem Mário Quintana". De acordo com Giovane, algumas "filosofias" precisam ser seguidas dentro do projeto, como: o estudo, o respeito aos pais e a espiritualidade - conhecer a palavra de Deus e os ensinamentos de Jesus. Do atual grupo de skatistas, quatro jovens são responsáveis por "multiplicar a ideia", amigavelmente definidos por Byl como "discípulos". Além do skate, o MJMQ também tem representantes no futebol e no hip-hop.

Grupo utiliza uma das quatro quadras de futsal do Parque Chico
Mendes para realizar suas manobras (Foto: Ulisses Miranda)

Confira abaixo parte da conversa com o líder do MJMQ, Giovane Luiz de Lima Junior, sobre a oficina, as necessidades, as promessas feitas pela prefeitura e o skate como esporte:

Entrevista realizada em 28 de maio de 2016.

Qual importância de movimentos e oficinas como essa dentro do bairro Mário Quintana?

Giovane: A importância? Cara, como eu falei. A gente aqui não recebe recurso de nada nem de ninguém. Tenho em média 20 jovens que acordam pensando em skate, passam o dia andando de skate e antes dormir assistem vídeos de skate para no outro dia tentar fazer as manobras. Cara, se tivesse mais apoio, nossa realidade de violência não estaria tão grande. O esporte é vida.

"Corrimão" foi construído com um travessão inutilizado. À direita,
um toco de madeira substitui um hidrante (Foto: Ulisses Miranda)
A oficina precisa de algum tipo de ajuda? Equipamentos, rampas, etc...

Giovane: Nossa! Skate, velho, é um esporte que, parece, não é para pobre, porque as peças são caras. A roda é cara, o rolamento é caro, o truck é caro, o shape é caro e os teus tênis se destroem em um mês. Daí, quando tu consegues um tênis, o shape quebra. Arruma o shape, estoura as rodinhas... Mesmo assim, por incrível que pareça, saiu o senso do Datafolha, que calculou o número de skatistas no Brasil. São 8,5 milhões de skatistas, um aumento de 100% (em relação ao senso de 2009). Mais de 40% são da classe C. A maioria dos skatistas são pobres! Só 3% é da classe A, o resto é classe C, D e E. É um esporte periférico.

Numa publicação recente (25 de abril) em seu perfil do Facebook, você cobrou uma resposta sobre o projeto da pista de skate, prometido na plenária do Orçamento Participativo, em 2013, pelo prefeito José Fortunati. O que foi prometido e o que foi feito?

Giovane: Essa é uma demanda que surgiu dentro do Orçamento Participativo, dentro de uma reunião, onde uma entidade apontou para a prefeitura que seria interessante construir uma pista. A prefeitura acabou não colocando o projeto no seu orçamento. Nós pegamos isso e tentamos resgatar. Aí, a gente foi na Secretaria de Governança, onde o secretário, o Busatto, se comprometeu em conseguir uma contrapartida na cidade para fazer com que essa pista fosse executada. A contrapartida veio, de R$ 200 mil. Dentro da hierarquia da prefeitura, como o assunto se refere aos jovens, passou para a Secretaria da Juventude. O secretário da juventude, na época, o secretário Luizinho – não tenho medo de falar o nome dele – assumiu o projeto porque estava buscando visibilidade para ele e disse que não precisava dos R$ 200 mil, que a secretaria tinha recurso próprio para fazer a pista. Descartou os R$ 200 mil, que foram investidos em outra coisa. Então, numa plenária para mil pessoas, o prefeito afirmou que existia o projeto, que o projeto estava aprovado, inclusive pela comunidade e num período curto de tempo a pista iria sair. Passou 2013, 2014, 2015 e está passando 2016. Nada de pista. Ninguém fala sobre isso. Eu busco reunião, é um projeto que foi engavetado e caiu no esquecimento.

O que diferencia o skate dos outros esportes?

Giovane: O skate é um esporte diferenciado porque ele envolve adrenalina. É um esporte radical. O jovem precisa muito descarregar essa energia, essa adrenalina. Alguns acabam descarregando na droga, alguns acabam se tornando depressivos, alguns acabam no crime. O skate tem uma união muito grande, porque não se compete. Quando um skatista está andando, o outro não torce para que ele erre a manobra. Torce para ele acertar. Num campeonato de skate, a torcida não torce contra um ou contra outro. Todo mundo torce por todo mundo. Essa é a magia do skate, a união. Esses guris que estão aqui, são de território diferentes, entendeu? Talvez, eles nem pudessem andar juntos. Mas, o skate une eles. O skate tira esse “territorialismo”. Tem guri da Leopoldina, da Timbaúva, da Wensceslau... e tá todo mundo aqui. Todo mundo junto. O skate só une.

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